Preparo emocional para atuar na Psicologia Forense

Ou como aprendi a cuidar de minha saúde mental, atendendo autores de estupros e assassinatos em série, quando iniciei na área de Psicologia Investigativa e Criminal…

 

 

 

 

Profa. Dra. Elisa Krüger

PARTE I

Você tem curiosidade de saber como devem ser os preparativos psicológicos para um profissional trabalhar na área de psicologia jurídica, forense e criminal? Então, eu trouxe algumas dicas de como eu conduzo o meu processo emocional. Espero que seja útil para você. Mas lembre-se que cada ser humano é único, devendo conhecer seus limites, tanto para ir além deles, quanto para respeitá-los.

Em primeiro lugar, é importante que estejamos em dia com a nossa terapia, com as nossas relações sociais e familiares! Estar com a saúde mental em dia, para só depois nos lançarmos às demandas e estressores da nossa profissão.

Segundo: termos um bom supervisor (além do terapeuta) para nos dar apoio técnico e prático em nosso trabalho.

AGORA, A BASE PRINCIPAL:

3 – Compreender que os estressores e demandas profissionais virão de vários locais diferentes. Para começar, cuide do seu ambiente de trabalho. No momento em que escrevo esse texto, ainda atravessamos a pandemia de COVID-21 e isso se mostrou particularmente desafiador. Tenho, no mesmo local, o home Office, as atividades de casa e as relações familiares. Então, é importante, separar um horário para tarefas de casa, local dedicado para a parte profissional e horário para lazer, sem falar do consultório! Eu também mantenho o hábito de fazer coisas diferentes nos finais de semana.

4 – Depois, precisamos identificar que no trabalho de psicologia jurídica, forense, investigativa ou criminal existem vários estressores diferentes: da rotina, do cansaço, às vezes de uma situação de saúde em que você não está muito bem e tem prazos a cumprir, como em qualquer trabalho. Às vezes as distâncias são grandes e você precisa ir do tribunal ao presídio, por exemplo. Há problemas de trânsito, chuva, excesso de frio ou calor, desconforto nos presídios onde a gente atende…

Então, com relação a isso, acho bom usar a psicologia ambiental e nos vestirmos de maneira confortável, nos prepararmos para imprevistos, carregar sempre água, barrinha de cereal, sair com antecedência e se programar para imprevistos. Tentar se organizar de forma que essa rotina (que é comum não só para nossa área) flua com tranquilidade. Eu, particularmente, viajo muito, então preciso ser bastante metódica: me planejo com antecedência e tenho sempre uma mala de bordo pronta, com pelo menos 2 mudas de roupa de trabalho e meus documentos sempre organizados. Atendo vários casos fora do meu estado e alguns até fora do país e isso ajuda muito a lidar com a ansiedade e o estresse.

E QUANTO À CONVIVÊNCIA…

5 – Além disso, temos o convívio com colegas psicólogos, psiquiatras, advogados, juízes, promotores e policiais. A parte institucional pode ser difícil, porque a burocracia às vezes emperra nosso dia-a-dia e nem sempre os colegas de trabalho compreendem ou facilitam nossas tarefas. Isso pode trazer alguns dissabores, então, procurar sempre se comunicar com as pessoas e instituições de maneira clara, objetiva e com antecipação para não ser pego por imprevistos. Pode até parecer muito mais uma organização logística, mas tudo isso impacta diretamente nosso emocional, pois quando a gente não se organiza bem, ao final do dia podemos estar exaustos, estressados, ansiosos por uma perda de prazo, por uma viagem marcada em cima da hora… Então, diria que essa é uma forma preventiva de cuidar da nossa saúde mental!

6 – Outro aspecto é o convívio com os presos que eu atendo ou com as pessoas que estão respondendo processos. Diria que, na fase em que me encontro hoje, profissionalmente, estar com eles não é um estressor à parte, mas falarei disso no final desse texto. Mas quero chamar a atenção que, assim como na Psicologia Clínica tradicional, cada indivíduo que está diante de nós é um e precisamos nos abrir para compreensão dessa subjetividade. Nos mostrarmos acolhedores, estabelecermos um setting adequado, fazer um bom holding, estarmos ali à disposição, de maneira empática. Para tanto, é preciso adequar nossa linguagem a essas pessoas, que muitas vezes, são de cultura mais simples, mais humildes em termos educacionais. Então, precisamos falar de maneira clara e objetiva para sermos entendidos, para que a comunicação flua.

7 – Depois, temos a convivência com familiares, tanto dos presos quanto das vítimas, o que requer muitos cuidados de nossa parte, de forma a não nos deixarmos impregnar pelas emoções dessas pessoas, como a ansiedade, a raiva, o desejo de vingança, o medo… Elas costumam nos demandar, inclusive, algum tipo de aconselhamento psicológico ou de psico-educação. A maioria da população não conhece muito bem nosso trabalho, então é também um grande desafio, explicar o que fazemos, estabelecer limites e nos disponibilizarmos.

LIDANDO COM O STRESS:

8 – Um dos motivos pelos quais precisamos estar com a terapia em dia, é para lidar com a contratransferência (por mais que não seja uma relação terapêutica clássica – vários autores indicam que o processo de avaliação psicológica ou de prestação de serviços psicológicos também possui características terapêuticas).

9 – Outra coisa: precisamos nos adequar aos ambientes e prazos, porque trabalhar em parceria com o Sistema Judiciário é estar em contato com polícia, Justiça e sistema penitenciário. Entrar num presídio pela primeira vez pode ser estressor. Acompanhar um julgamento no tribunal do júri pode ser extremamente ansiogênico. Quanto melhor conhecermos como funcionam as instituições, os ritos, as rotinas e os trâmites, menor nosso desgaste.

Continuarei no próximo post!

Até mais…

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