ATUAÇÃO INTERNACIONAL

Você sabia que Psicólogos Forenses podem ter uma carreira internacional?

 

 

 

Dra. Elisa Krüger

Hoje contarei um pouco sobre meu trabalho. Senta que lá vem história!

MIL E UMA NOITES, TRÊS DIAS E MUITAS HORAS… (PARTE I)

Tudo começou em 2012, numa visita a um presídio, substituindo meu orientador de doutorado como representante do Conselho Federal de Psicologia, junto à comissão de Direitos Humanos da OAB que realizaria uma inspeção para averiguar denúncias. O tema me interessou e passei a pesquisar mais e a me envolver nestas causas humanitárias.

Tempos depois, ele foi convidado para representar o CFP no Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura e me perguntou se eu gostaria de ser a suplente dele. Me engajei ainda mais e dois anos depois, devido a problemas de agenda, ele se afastou e eu assumi seu lugar.

O CNPCT funcionava na Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, em Brasília e certo dia recebemos a demanda de enviar um dos membros para o II Fórum Mundial de Direitos Humanos. Ninguém tinha disponibilidade para viajar naquele mês e após muita insistência da secretária, decidi aceitar. Só então descobri que o evento seria no Marrocos.

Aquela viagem mudou minha vida profissional (e pessoal) para sempre!

Integrei a comitiva do governo brasileiro e viajei em companhia da ex ministra Ideli Salvati e tive a oportunidade de conhecer o sistema penitenciário de lá. Além disso, conheci a universidade, as alunas do curso de Psicologia, a cidade e um pouco da cultura e dos hábitos e tradições do país. Durante um banquete oferecido pelo Rei do Marrocos, na noite de encerramento do evento, dei uma entrevista falando o quanto estava positivamente impressionada com tudo que vira.

Literalmente, pra lá de Marrakesh…

Para minha surpresa, semanas depois, recebi uma carta do governo marroquino agradecendo minha participação no evento e na entrevista e me concedendo o título de “amiga do Marrocos” (uma espécie de cidadã honorária). Achei incrível a generosidade deste povo, retribuindo de maneira tão marcante o meu pequeno gesto.

Passados alguns meses, recebi um telefonema de um dos marroquinos que conheci lá (e que trabalhava com as relações comerciais Brasil-Marrocos e viria a se tornar um grande amigo/irmão: Muhammad Szafir) me pedindo para escrever um texto sobre os efeitos psicológicos dos conflitos armados sobre mulheres, crianças e idosos que vivem em campos de refugiados. Assim fiz e enviei por email, em espanhol (um dos idiomas falados lá, além do árabe e do francês). Ele agradeceu e me perguntou se eu poderia traduzir para o inglês e depois ler para eles no mês seguinte. Disse que sim, achando que se tratava de mais uma entrevista que dessa vez seria feita por Skype ou algo assim.

Mas dias depois recebi um email, metade em árabe, metade em inglês, de um remetente desconhecido, com o ticket de uma passagem aérea e um voucher de hotel nos EUA. Não entendi nada, mas presumi ser coisa do Szafir. Liguei para ele e perguntei do que se tratava, ao que ele me respondeu que era para eu “ir ler o texto”, conforme combinamos. “Mas em Nova York?”, perguntei. E ele respondeu, “sim, doutora, a senhora vai representar o Marrocos na Assembléia das Nações Unidas”. Claro que eu engasguei, aquilo era muito inesperado! Então, questionei sobre como eu poderia representar um país que não era o meu e ele me lembrou do simpático título que eu recebera meses antes, dizendo: “agora a senhora também é meio marroquina, doutora”.

Fiquei muda de espanto, de surpresa, susto e claro, ansiedade. Era uma tarefa importantíssima que jamais passara pela minha cabeça. Falar na ONU? Eu precisava digerir aquilo…

(continua no próximo post…)

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